O Plantio Direto (PD) iniciou na América do Sul com a introdução da técnica do “No-Till” (sem preparo) usada nos EUA desde 1962. A proposta é plantar uma nova safra sem fazer o preparo do solo, diretamente sobre os restos da cultura anterior. Havia algumas iniciativas em diferentes locais, mas foi a introdução em larga escala (180 ha) por Herbert Bartz em Rolândia, PR., em 1972, com a Allis Chalmers, que é o marco inicial. Todos os pioneiros das diferentes regiões do Brasil, buscaram esta alternativa para controlar a erosão do solo, que crescia assustadoramente naquela ocasião. Portanto, desde sua origem no Brasil e na América do Sul o PD que evoluiu para o SPD já teve uma conotação ambiental. Mauá da Serra foi a segunda região da América do Sul a adotar o PD, em 1974.
Esta é a primeira geração do PD e define o primeiro dos seus três pilares: não revolver ou preparar o solo.
Em meados da década de 1980 algumas instituições de pesquisas e Universidades passaram a estudar ao PD e na década de 1990 se constatou a importância de manter o solo sempre coberto para protegê-lo da ação do clima, para protegê-lo ainda mais da erosão. Os trabalhos realizados nos Campos Gerais, com Franke Djikstra e Manoel Henrique Pereira (Nonô), que iniciaram com o PD em 1975, foram fundamentais para isto e se consolidou a proposta de se incluir as culturas de cobertura e de adubos verdes, para aumentar a cobertura morta, ou palha, sobre o solo. Paralelamente se adaptou o conceito do PD para a agricultura familiar.
Surge a segunda geração do PD, o PDP, Plantio Direto na Palha e define seu segundo pilar: manter o solo permanentemente coberto, com cobertura morta, ou palha.
Nos anos 2000 os estudos e a pesquisa agronômica no Brasil se aprofundaram com a evolução e a expansão do PD. Constataram a importância de se realizar a rotação de culturas para aumentar a diversidade de plantas no sistema de produção e assim recuperar e preservar a biodiversidade do solo e, com isto, favorecer as produtividades e a preservação dos recursos naturais. Ampliaram as propostas de se fazer cobertura viva, inclusive como solução para climas mais difíceis como no Cerrado. Surgiram as propostas de coquetéis de culturas de coberturas, que evoluíram para os mix de culturas disponíveis no mercado atualmente.
Eis a terceira geração do PD e se consolida o conceito do Sistema Plantio Direto (SPD) e o terceiro pilar: a rotação de culturas. É esta prática que consegue recuperar e preservar a fertilidade do solo.
SPD é uma tecnologia genuinamente brasileira, construída pela interação positiva entre agricultores, empresas e a academia, criando a melhor Ciência Agronômica do mundo e alterando cenário da agricultura brasileira e sul-americana, realizando a maior revolução agrícola.
Muitos organismos internacionais buscam obter repercussão lançando novos nomes para uma agricultura moderna, como: Agricultura Conservacionista, sistema integrados de produção, Agricultura Regenerativa, Agricultura Biológica entre outros, mas todos se baseiam nos princípios do SPD concebido no Brasil.
Este processo foi árduo e trabalhoso, exigindo muito empenho de muita gente, e parte disto está muito bem representado neste Museu.
Importada dos EUA por Herbert Bartz em 1971.
Após sua visita à Fazenda de Harry Young Jr, em Kentucky, EUA, onde ele conheceu o Plantio Direto que já vinha sendo empregado há 10 anos naquela propriedade. Entusiasmado com a ideia, encomendou e importou a mesma semeadora que Harry Young usava. Com ela iniciou, em 1972, a primeira área em larga escala com Plantio Direto da América do Sul, na Fazenda Rhenânia, em Rolândia - PR.
Depois de muitas dificuldades com a alfândega brasileira para liberar o equipamento, ela foi trazida de Santos, SP. Esta máquina chegou na fazenda e levou cerca de 15 dias para ser montada e colocada em condições de iniciar a semeadura de soja, em 23 de outubro de 1972.
Este momento é considerado o início do Sistema Plantio Direto na América do Sul.
23 de outubro é comemorado o Dia Nacional do Plantio Direto no Brasil, desde 2023.
* Acervo da Familia Bartz.
Você sabe o que é uma semeadora?
Trata-se de uma máquina agrícola que planta sementes. Ou seja, coloca a semente e muitas vezes o adubo, dentro do solo para que germine e gere novas plantas. As lavouras anuais, como soja, milho, trigo, arroz, aveia, centeio, girassol etc. se propagam por sementes e devem ser semeadas em todas as safras. As semeadoras devem colocar estas sementes e o adubo distribuídos uniformemente, em profundidade constante no solo e depois cobrir. Existem as semeadoras que aplicam sementes pequenas e as que plantam sementes grandes, também chamadas de plantadeiras. Há também as multi-semeadoras, que plantam ambas.
Em Sistema Plantio Direto o trabalho das semeadoras é ainda mais difícil e importante, pois além de abrir um sulco no solo para pôr as sementes e o adubo, há ainda os restos vegetais ou a cultura de cobertura, que protegem a superfície do solo, que devem ser atravessados e preservados.
Rotacaster foi a primeira semeadora brasileira especialmente produzida para o Plantio Direto.
Da versão 100 foram feitas apenas duas. Desenvolvidas junto com Bartz, na Fazenda Rhenânia, aproveitando suas experiências anteriores. Foram cedidas a Herbert e Uli Bartz para testarem.
Como aproveitaram componentes de outros equipamentos, como caixa de adubo e enxada rotativa, já existentes, ficaram com "100 polegadas" de largura.
A ideia foi usar as enxadas rotativas como sulcadores para colocação das sementes e do adubo. Porém, a enxada rotativa é muito agressiva, desagregando muito solo nas linhas de semeadura, o que facilitava a erosão.
* Cedido pela Família Bartz.
Esta foi a primeira semeadora para Plantio Direto fabricada no Brasil.
Comercialmente, as Rotacaster passaram a ser produzidas com 80 polegadas de largura e com todos seus componentes feitos especialmente para elas, pela FNI.
Elas se basearam na Rotacaster 100, protótipo de 100 polegadas de largura desenvolvida a partir de uma semeadora construída por Herbert Bartz, em 1971, mas que eram muito pesadas para os tratores da época.
As primeiras semeadoras Rotacaster 80 foram vendidas em Mauá da Serra. O primeiro a adquirir foi Yukimitsu Uemura em 1974, influenciado por Bartz após uma visita à fazenda Rhenânia.
Em seguida, dezenas destas máquinas foram comercializadas em Mauá da Serra, iniciando o Plantio Direto na região.
Esta semeadora também foi empregada na introdução do Plantio Direto na região dos Campos Gerais, PR. por Franke Djikstra e Manoel Henrique Pereira (Nonô)
* Cedidas por: 01-Família Uemura
02-Hiroshi Kamiguchi(Okubo)
É chamada de plantadeira por semear sementes grandes, como soja, milho e feijão, por exemplo. A PS-6 foi desenvolvida para semear no sistema convencional, ou seja, com preparo de solo. Mas em 1977 a Semeato desenvolveu um kit de adaptação destas semeadoras para o Plantio Direto (PD), baseado nos estudos que foram desenvolvidos na Embrapa -Trigo e foi muito bem sucedido. Se atribui a esta máquina com adaptação a grande expansão que o PD teve no Rio Grande do Sul e depois em outros estados do Brasil e outros países da América do Sul. Em seguida a Semeato desenvolveu a PS-8, específica para o SPD.
Foi esta associação das empresas, com a pesquisa e com os agricultores que possibilitou ao PD evoluir para SPD e se tornar a melhor solução para a agricultura em todo o Mundo.
Este exemplar é de 1979.
Equipamento doado por Sérgio Kasutoshi Higashibara
A segunda geração de semeadoras brasileiras para Plantio Direto.
Esta semeadora ampliou as possibilidades do Plantio Direto, pois atendeu ao interesse de semear as sementes pequenas, facilitando as rotações de culturas em Plantio Direto e ampliando seu conceito para Sistema Plantio Direto. Esta máquina também aumentou muito o rendimento operacional, comparada com a Rotacaster 80, e foi a precursora de uma vasta gama de semeadoras de diferentes marcas, que surgiram em seguida e continuam evoluindo.
Esta geração de semeadoras brasileiras teve como modelos as semeadoras importadas da Inglaterra e do Canadá pela Embrapa-Trigo. As suas sucessoras evoluíram conceitualmente graças a diversos trabalhos de pesquisa, como os coordenados pela Área de Engenharia Agrícola do extinto Iapar, atual IDR-PR.
* Cedido pela Família Higashibara
Esta máquina foi usada para controlar o mato no início do Plantio Direto.
Nas lavouras, o mato, também chamado de invasoras ou plantas daninhas, concorre com as plantas comerciais por água, luz e nutrientes, prejudicando o desenvolvimento das culturas.
Na época do sistema convencional, prevalecia o conceito de que todo mato devia ser eliminado e o preparo de solo foi usado também para isto. Era chamado de fazer a “cultura no limpo”.
Com o Plantio Direto o controle do mato ficou mais difícil e algumas tentativas foram feitas, inclusive cultivando mecanicamente as ruas ou entrelinhas da soja. A primeira alternativa com herbicida foi usando um produto não seletivo, ou seja, matava todas as plantas onde o produto caia, inclusive as culturas. Para usar este único herbicida que se dispunha, foi desenvolvida a "entrelinha" que aplicava o produto nas entrelinhas da cultura, ou rua, protegendo as plantas da cultura, para não serem atingidas.
Era uma operação difícil e ainda exigia a complementação manual da capina. Foi a comunidade de Mauá da Serra que conseguiu os melhores resultados no uso deste equipamento.
Atualmente há uma ampla gama de herbicidas mais tecnológicos e seletivos, mas o mais importante é que com a evolução para o Sistema Plantio Direto se aprendeu a conviver com o mato. Alguns, inclusive, são benéficos às culturas, chegando a ter produção orgânica em Sistema Plantio Direto sem nenhum insumo químico.
* Cedido pela Família Uemura
Adquiridas 02 unidades pelos irmãos Herbert e Uli Bartz em 1974, de uma usina de cana-de-açúcar usado para gradear a entrelinha da cana, por ser mais alto.
Os Bartz adaptaram uma enxada rotativa no entre eixos do trator visando controlar o mato nas entrelinhas da cultura de milho, por isto se interessaram pela altura destes tratores.
A ideia não vingou devido a excessiva mobilização de solo que a enxada rotativa promovia e pelas dificuldades operacionais, para não afetar a cultura.
Mas a proposta dos Bartz evoluiu para a "Entrelinha" exposta aqui, que usava herbicida de contato ao invés de enxada rotativa.
O surgimento dos herbicidas seletivos substituiu estes equipamentos com vantagens. Hoje se propõe a rotação de culturas e a adoção de culturas de cobertura, inclusive mix de plantas, para promover diversos benefícios, inclusive diminuir a infestação do mato.
Readquirido e doado por: Cândido Hideomi Uemura, Humberto Hiromitsu Uemura e Pedro Yssamu Takahashi
Doado pela Família Yamanaka, comprado em 1960 e trazido junto com a mudança de Tupã-SP, onde produziam amendoim em pequena área.
Na ocasião adquiriram em Mauá da Serra uma área de 30 alqueires (72,6 ha) o dobro da área em Tupã-SP.
Este trator trabalhou intensamente na produção de batatas.
Em 1966 passaram a produzir arroz, e na safra 67/68 já produziram soja em parte da propriedade.
E até 1974, vinham cultivando as culturas de soja e trigo em sistema convencional, e depois de muita dificuldade com a erosão, introduziram o Plantio Direto, adquirindo uma Rotacaster 80 e este trator foi substituído por um CBT-1.100. O Fordson passou a fazer serviços leves na fazenda e, também, foi emprestado ao Colégio Agrícola Manoel Ribas de Apucarana, para apoiar na formação de alunos.
* Cedido pela família Yamanaka
Trata-se de um protótipo desenvolvido pela área de Engenharia Agrícola do extinto Iapar, em1987, visando apresentar aos fabricantes de semeadoras à tração animal, as alternativas técnicas para desenvolverem e produzirem semeadoras à tração animal para o PD e, desta forma, expandir o PD para a Agricultura Familiar, que vinha sofrendo com a erosão e degradação do solo. Este projeto foi muito bem-sucedido, e em 1993 por iniciativa da FEBRAPDP e da Secretaria da Agricultura do Paraná por meio da EMATER e IAPAR mandou fabricar 33 Gralha Azul que foram utilizadas para a expansão do SPD Tração Animal no Centro-Sul e Sudoeste do Paraná criando propriedades-modelo. Posteriormente com apoio financeiro da Monsanto e da Semeato usando a mesma metodologia do SPD à tração animal, foi expandido para o Oeste de Santa Catarina. Essas iniciativas tiveram enorme repercussão promovendo o que pode ser considerado a maior revolução agrícola da história humana. O IAPAR e a EMATER-PR e a Emater-PR constituem atualmente o IDR-Paraná IAPAR-EMATER.
Trata-se de uma proposta para realizar o manejo das culturas de cobertura, como alternativa ao uso de herbicidas. O controle passa a ser mecânico e sua eficiência depende de diversos parâmetros do equipamento e das plantas da cobertura. Tem sido muito usado para reduzir a dependência de herbicida no SPD, inclusive para a produção orgânica em SPD.
Este protótipo foi desenvolvido pela Área de Engenharia Agrícola do extinto Iapar para ser usado como modelo eficiente pelos fabricantes interessados em sua produção e comercialização
Trata-se da maior honraria concedida pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, àqueles que se destacam pelos serviços prestados na construção, expansão e consolidação do Sistema Plantio Direto (SPD) na América Latina e que teve início no 18º. Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto, em Foz do Iguaçu, PR., em 2022, justamente nas comemorações dos 50 anos do início do SPD no continente.
A nossa Comunidade de Mauá da Serra, representada pela Comunidade Japonesa, fez parte dos homenageados naquela ocasião, em reconhecimento da importância que tivemos na consolidação do Sistema na região e na sua difusão para outras regiões.
A nossa comunidade se orgulha disto e reforça que continuará adotando ações comunitárias, em prol da coletividade, como as que concretizaram e mantêm este Museu.
Caso você ou sua família tenha alguma relíquia e queira doar, entre em contato conosco.
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